Vasco Martins Sinfonia Nº 9 Oceano Atlântico

Ilhéus Secos, perto da ilha Brava, Cabo Verde

No principio de 2008, comecei a compor a Sinfonia 9, Oceano Atlântico (o primeiro nome foi Mare Oceanus). Esta sinfonia nasceu das longas caminhadas que fazia, e ainda faço, ao longo dos litorais da ilha de S. Vicente, sobretudo o litoral Norte-Este-Sul. O que vai da Ponta do Calhau ao Tupim é o meu preferido, um semi-arco com a eterna presença do Oceano Atlântico e a visão oblíqua das vagas que, conforme o vento e as marés, ora são eloquentes, ora são calmas. Pode-se ver, a poucas milhas, a ilha de Sta. Luzia, os Ilhéus Raso e Branco e, em dias claros, a ilha de S. Nicolau. Em determinado ângulo, na ponta de Calhau, pode-se ver também parte da ilha de Santo Antão e o Pico da Cruz. Os montes vulcânicos circundantes prestam uma visão de forte energia, algo dramática, ao fim do dia.

Na costa, algumas aves migratórias: rolas do mar, garças-lavadeiras, tarambolas, maçaricos-galegos, sanderlingos. É o território de três ou quatro casais de águias-do-mar, das alegres calhandras-pastor e das ‘corredeiras’ do deserto.

No meio do canal, entre S. Vicente e S. Luzia, passam, entre fevereiro e abril, as grandes baleias jubarte que vêm do sul, bandos de golfinhos, peixes voadores. O sol, a lua e a procissão de constelações nascem neste lado da ilha. As nuvens que chegam do Nordeste, mutações constantes da natureza, passam por cima do vulcão da Viana e do Monte Madeiral; saem da ilha e voltam a navegar por cima do oceano. Tudo flui.

Todo este ambiente cósmico começou a despertar ideias musicais para a composição de outra sinfonia. O pau de bambu com os harmónicos, quando soprava o vento, incentivou as primeiras ideias. Mas algo de novo e forte começou a surgir no meu espírito: a presença do Oceano Atlântico como uma espécie de entidade com vida própria pois, se durante muitos anos, o mar sempre foi a visão de uma força energética no momento real-presente, foi a partir dessa data que comecei a ter uma maior consciência do eterno movimento do fluxo do universo. É a soberana indiferença tranquila, que só grandes elementos da natureza parecem possuir em relação aos homens, embora tudo seja uno.

O Oceano Atlântico… carregado de história humana que vem espraiar-se nas costas desta ilha, sustentado pelo celestial e misterioso equilíbrio da gravidade.

A composição da sinfonia seguiu um canto interior que ia anotando, mas também ideias poéticas, haikus, esquemas orquestrais e desenhos.

Desejava de novo uma sinfonia de curta duração, doze ou treze minutos em um só movimento, sem repetições temáticas mas com unidade estética tentando ‘imitar’, assim, o fluxo do oceano. Uma sinfonia não descritiva mas suficientemente evocativa. O primeiro movimento, que foi uma espécie de primeira versão que terminei em Julho de 2008, foi gravada em Novembro do mesmo ano pela Moravian Philharmonic Orchestra, dirigida pelo maestro Vit Micka. Uma interpretação feliz.

As caminhadas continuaram e a sinfonia evoluiu, tal como evoluiu a minha relação espiritual com o Oceano. O Oceano falava comigo, uma canção éterea,mas também tumultuosa. Assim fui acrescentando linhas orquestrais. Em setembro de 2012 inclui mais dois movimentos. Em 2018 conclui finalmente a orquestração desta sinfonia, dez anos depois de a começar. Tem 3 andamentos, com a duração de 25 minutos

Para audição do primeiro movimento com imagens (slide show):

Está também disponível no Bandcamp:

https://vasco-martins.bandcamp.com/track/symphony-n-9-atlantic-ocean-movement-i

Para quem deseje adquirir a partitura do primeiro movimento ou a versão definitiva: vascomartinsmusica@gmail.com